A encenação da crucificação
de Jesus em plena parada gay causou muito mal estar entre cristão de diversas
denominações. Uns consideraram blasfêmia, outro, apenas deboche, mas a maioria
entendeu como uma provocação aberta aos cristãos.
Particularmente,
não me senti nem um pouco ofendido ao ver uma ativista gay pregada numa cruz.
Afinal, Segundo os dogmas cristãos Jesus não morreu somente por héteros. Na
cruz, Ele Se identificou com os excluídos, os oprimidos, os marginalizados, e
ao fazê-lo, assumiu em Si todos os nossos pecados e mazelas, sejam de que
natureza fossem inclusive sexual. Não há dilema humano que não caiba na cruz
dentro do contexto cristão principalmente se for feita apenas a releitura do
novo pacto ou testamento. Já que o antigo é voltado ao povo das tribos.
O que vi
representado naquela cena foi o sofrimento de um segmento que tem sido vítima
de “nosso de cada dia mos daí hoje: preconceito, nojo e ódio” Ódio esse que na
cultura brasileira é de coração pois amamos com o coração e odiamos com o
coração. O que deveria incomodar os cristãos, não é a cena em si, mas aquilo
que ela pretende denunciar. E por mais doloroso que seja admitir, temos
engrossado o coro de seus algozes. OS discursos inflamados dos púlpitos das
comunidades neo-pentecostais, travestidos de piedade cristã, só fazem fomentar
ainda mais a intolerância e o desamor.
O que para alguns
pareceu um insulto, para mim soou como um pedido de socorro. Se a intenção era
apenas provocar, eles conseguiram. Provocaram o que já estava latente no povo
de cristo, o ódio inconfessável ou a compaixão.
Sobre a cabeça do
ativista crucificado uma placa que dizia "Basta de homofobia". Se
isso não for um pedido de socorro, não sei o que é.
Próximo dali, um
grupo de cristãos conscientes exibiam uma faixa que dizia "Jesus cura a
homofobia". Nem tudo está perdido. No meio desta loucura que se instalou
em vários lugares do Brasil, ainda restam alguns oásis de lucidez e
misericórdia. Pena que seja uma minoria. E tomara que se torne uma minoria bem
barulhenta.
A maioria está tão
obcecada com a ideia de curá-los daquilo que reprovam como conduta, que não
percebe o quão doente está.
Obviamente que
políticos evangélicos que têm sido eleitos em cima desta guerra idiota vão
aproveitar ao máximo o episódio para se auto-promoverem. Quanto mais
animosidade entre cristãos e gays, melhor para eles. Só não vê quem não quer.
E Jesus, será que
Se ofendeu? Ora, se Ele foi capaz de rogar perdão por aqueles que o crucificavam
pra valer, duvido muito que não tenha relevado o que não passou de uma
representação artística. Não creio num Jesus ranzinza, insensível e incapaz de
compreender muitas “idiossincrasias” e incongruências. Creio que do alto céu,
Ele olhou com misericórdia aquelas milhões de pessoas que desfilavam na Avenida
Paulista como ovelhas que não têm pastor.
Quem sabe encontrou
mais sinceridade em cima daquele trio-elétrico do que em cima de púlpitos e
dentro de muitas igrejas ou outros que desfilaram dois dias antes na Marcha para
Jesus, regada a bebidas inebriantes e outras coisitas. Assim como encontrou
mais fé num centurião romano idólatra do que nos religiosos escrupulosos que o
seguiam. Imagino o quão ofendidos ficaram ao ouvirem dos lábios de Jesus: Nunca
encontrei tamanha fé, nem mesmo em Israel. Em nosso caso, talvez o que sobre de
fé esteja faltando de amor.
Que tal se em vez
de ficar colocando lenha na fogueira da luta fraticida da nova e nada santa
inquisição, não alimentamos o que ainda nos restou da chama do amor ?
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