Sexismo e misoginia no judaismo, como a sociedade constrói sujeitos machistas sob a égide do patriarcado.
No Judaísmo há a diferença
nas orações diárias matinais. Os homens oram : " Bendito sejas Tu, Eterno, nosso Deus, Rei do Universo que não me fizeste mulher ". As mulheres oram: Bendito sejas Tu, Eterno, nosso Deus, Rei do Universo, que me fizeste segundo a Tua vontade". Horrível não ?
Tradução: Homens única entrada, para as mulheres é estritamente proibida
Essas bênçãos fazem parte da liturgia
tradicional judaica dentro do conjunto de "agradecimentos a Deus"
conhecido como "Bênçãos matinais" e que são recitadas toda manhã ao
despertar. Essas bênçãos não são consideradas problemáticas apenas para a nossa
geração, posterior à "revolução feminina", mas incomodaram também as
gerações que nos precederam. E as explicações ou "soluções" tentadas
em diferentes épocas não foram suficientemente convincentes.
A história dessas
bênçãos - e as reações que geraram em mulheres e homens judeus - poderia servir
de roteiro do lugar das mulheres dentro do Judaísmo em diferentes momentos
históricos. No Talmud de Babilônia - Tratado "Menachot" 43 B está
escrito:
O Rabi Meir disse: O homem deve recitar três bênçãos cada dia, e elas
são: Que me fizeste (do povo de) Israel; que não me fizeste mulher; que não me
fizeste ignorante.
Segundo o rabino contemporâneo Joel H. Kahan , essa bênção
se originou do dito helênico popular, citado por Platão e Sócrates, que diz:
Há
três bênçãos para agradecer o destino: A primeira - que nasci ser humano e não
animal; A segunda - que nasci homem e não mulher; A terceira - que nasci grego
e não bárbaro.
Mesmo que a ordem não seja exatamente a mesma - e os gregos
agradeciam ao destino e os judeus, a D-us -, a semelhança é flagrante: o
agradecimento grego pelo fato de "ser humano" tem seu paralelo judaico em
"não ser ignorante"; "não ser bárbaro" era para os gregos
tão importante quanto para os judeus agradecer por ser parte do povo de Israel;
e "ser homem e não mulher" era central em ambas as culturas, onde a mulher
ocupava um lugar secundário, especialmente na vida pública.
Apesar de, na época
bíblica, a mulher participar ativamente de todas as manifestações da vida
social , política, econômica e religiosa, ela desaparece do cenário público
no período talmúdico (século III a século VI da Era Comum). Essa concepção do
lugar da mulher na sociedade judaica na época do Talmud época na qual foram
estabelecidas as regras do dia-a-dia judaico, baseadas na interpretação e
análise dos textos bíblicos pelos rabinos (exclusivamente homens) , recebe
influência direta da antiga sociedade grega em que estava inserida. Nela, a
mulher praticamente não tinha vida social, já que estava afastada dos lugares e
acontecimentos públicos, entre eles, os religiosos.
Os Sábios do Talmud interpretaram o versículo
"Toda a glória da filha do rei na sua casa" (Salmo 45:14), ensinando
que a honra de uma mulher exige que ela fique na sua casa, cumprindo sua função
essencial de ter filhos e de facilitar ao seu marido o cumprimento dos
preceitos. Seguindo essa lógica, as mulheres eram definidas pelo aspecto
biológico, como mães procriadoras; do ponto de vista sociológico, eram
dependentes, primeiro do pai e depois do marido; e, sob o prisma psicológico,
eram incapazes de dedicar-se a temas tidos sérios ou importantes, exclusivos
dos homens. Portanto, a presença de uma mulher num lugar público na rua,
no mercado, nos Tribunais, nas casas de estudo, nos eventos públicos ou nos
cultos religiosos, era considerada uma ofensa à sua dignidade de mulher.
Os movimentos ortodoxos, segmentos mais
tradicionalistas do Judaísmo, não admitem a formação de mulheres como rabinas,
baseando-se na crença de que a Halachá (o conjunto de leis judaicas) é
imutável, e que, como não houve rabinas no passado, não deveria haver no presente
ou no futuro. E, embora haja mulheres ortodoxas que anseiam por uma ação mais
participativa no seio da religião, esbarram nas proibições dos seus rabinos que
citam fontes cuja interpretação desemboca na proibição
As
comunidades judaicas estão dividida por limites aos gêneros e danificada pelo
sexismo.
Os homens judeus sempre tentaram compensar seu poder menor em relação aos outros homens exercendo autoridade sobre "suas" mulheres. Na vida judaica institucionalizada, isso toma a forma, por exemplo, de exclusão das mulheres de rituais e do ofício de rabino, de não contar as mulheres no minian, de desigualdades no divórcio e em outras leis, de um reconhecimento inadequado do trabalho voluntário da mulher e muitas outras injustiças.
Os homens judeus sempre tentaram compensar seu poder menor em relação aos outros homens exercendo autoridade sobre "suas" mulheres. Na vida judaica institucionalizada, isso toma a forma, por exemplo, de exclusão das mulheres de rituais e do ofício de rabino, de não contar as mulheres no minian, de desigualdades no divórcio e em outras leis, de um reconhecimento inadequado do trabalho voluntário da mulher e muitas outras injustiças.
O que me pergunto é: por que seguimos a risca
livros escritos há 2 mil anos, escritos em contextos políticos e sociais tão
diferentes de hoje? Por que somos literais em alguns aspectos e seletivamente
complacentes em outros ?
Estas duas perguntas
rendem livros, claro. E creio que cada um que opta por ter religião a responda
em seu íntimo, na liberdade de sua profissão de fé. E que o façam sem esquecer
que o Estado é laico e regido por leis terrenas. Gostando ou não.
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