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segunda-feira, 24 de março de 2014

Formação da identidade da sociedade malê 1835


O Entendimento da formação da identidade da sociedade malê construída pelos participantes do Levante 1835 passa pela compreensão do modo como os pré-condicionantes étnicos e históricos do passado distante destes grupos africanos estavam personificados no interior da sociedade baiana, no momento da eclosão da rebelião. Para tanto, voltemos ao contexto da vinda destes escravizados para a Bahia.
No inicio do século XIX, a África ocidental foi abalada por violentas guerras civis e religiosas, que convulsionaram o Império de Oyó e o território haussas, produzindo inúmeros escravizados em ambos os lados dos conflitos. Quando estes escravizados chegaram a Bahia, muitos já possuía na sua cultura um forte conhecimento islâmico,tingido muitas vezes de cores étnicas.
Assim, categorias genéricas, como malê, usado indistintamente para qualificar qualquer africano a que fosse muçulmano, funcionavam apenas para representar os iorubás convertidos ao islamismo, pois, outros grupos, igualmente islâmicos, como os haussás, se autodenominavam mulssumi, e há fortes indícios de que eles até abominavam o empréstimo lingüístico iorubá para descrêve-.los . Vale a pena lembrar que haussás mulssumi escravizados que haviam lutado ao lado do Kakanfo Afonjá pelo poder central de Òyó Ile, voltaram-se contra este e mesmo contra iorubás malês, durante aquela guerra civil. Não é difícil imaginar quão presente o passado africano se fazia em Salvador, e o quanto isto foi responsável pela fissura étnica no seio da comunidade afro muçulmana da Bahia.
Mesmo entre os falantes da língua iorubá  denominados nagôs quando chegavam à Bahia  avia uma dissensão interna entre o grupo. Os nagôs, adeptos das religiões tradicionais, tal como os malês, que no contexto africano eram abertos ao sincretismo religioso do culto aos orixás, recebiam o nome de kaferé palavra iorubá que quer dizer"infiel" e eram tratados como nagôs de " , segunda categoria"
Embora pequena e com grau de comprometimento religioso variado, a comunidade afro muçulmana formava majoritariamente por Iorubás , seguidos em numero por Haussás, Tapas e pela minúscula etnia Fulani representava cerca de 15 a 20% do total dos africanos na Bahia.” na melhor das hipóteses, o Islã representava na Bahia, um concorrente de peso ao culto aos Orixás Iorubás dos Voduns Jejes, dos Isoko Haussás, dos Iquinices Agolanos, entre outras expressões da religiosidade africana tradicional.
Somam-se os santos do catolicismo “Crêoulo” também abraçados por africanos e terá uma idéia do pluralismo religioso no seio da população africana e afro baiana naquela época “(reis :2004,p.177). Muitos africanos provavelmente circulavam em mais de um meio religioso na Bahia
As únicas etnias que parecem ter abraçado majoritariamente o Islamismo na África, foram aquelas vindas do território haussá, muito provalvelmente de Nupe e Borno  embora haussás "menos ortodoxos " agregassem ao Islamismo aspectos do culto aos espíritos ancestrais denominado Bori.
Entre os iorubás, apenas uma pequena parcela do grupo era mulçumana a grande maioria formada por praticantes do candomblé de orixás, isto quando não combinavam aspectos das duas religiões em suas práticas religiosas cotidianas. Apoiadas nas estruturas organizacionais e ideológicas das religiões africanas, em especial o Islamismo, e na identidade étnica de seus participantes, o núcleo de rebelde foi capaz de criar uma rede de informantes e coordenadores avançados.
Formadas por escravos urbanos e africanos livres e libertos, que se valia de suas relativas autonomia para estabelecer a ligação entre o núcleo organizativo da rebelião e a massa de escravizado do interior do recôncavo Para tanto, contavam com o proselitismo religioso de velhos méstres muçulmanos alufás, entre os nagôs e malãm entre os haussás , que no bojo dos ensinamentos religiosos ofereciam um suporte ideológico capaz de canalizar O sentimento de revolta e desejo de liberdade dos africanos em torno do ideal de rebelião. Apesar dos alufás nagôs gozarem de grande prestígios entre a população africana, é provável que frações étnicas entre os muçulmanos haussás mulssumi se submetessem à liderança espiritual e politica dos mestres nagôs o que explica a baixa presença haussá na rebelião, embora fossem apontados pelas autoridades policiais como potenciais culpados devido a sua tradição rebelde na Bahia.

Os Malês homens pretos altivos e orgulhosos, nunca aceitaram a escravização nem a imposição a eles da falsa identidade negra, tanto pelos brancos quanto pelos outros. Sempre se diziam africanos de origem Iorubá.